Iniciando


"A alma é literatura. Está cheia de estórias que nunca aconteceram".
(Rubem Alves)

sábado, 31 de julho de 2010

O amor é livre

Estava quente naquele início de tarde outonal. Tinham passado a manhã toda juntos, como de costume, e sua presença marcante ainda continuava a envolvê-lo. Ele não sabia ao certo como ela conseguia fazer aquilo, a única coisa que não podia negar era a reação que aquele olhar profundo e hipnotizante lhe causava. -"Olhos de ressaca. Olhos de cigana envolvente". Ela era linda e possuía o cheiro e o sorriso mais contagiantes do mundo. Amá-la era tão fácil e delicioso, mas os dois eram apenas amigos e ele não podia se esquecer disso. Talvez fosse a música - estavam em uma exposição e, ao fundo, tocava uma linda e calma música clássica. Talvez fosse a luz que entrava por uma fresta da janela iluminando o rosto dela. Seus olhos castanhos ficavam ainda mais encantadores, adquirindo um tom claro de avelã, quase um mel. Independentemente do que fosse, algo naquele dia o fez pensar sobre muitas coisas. Pensou em quanto a amava, em todo carinho que tinha por ela, em todo o bem que lhe desejava e percebeu que ela era uma de suas melhores amigas naquele lugar. Os dias ali não eram os mesmos e não tinham tanta importância sem ela. Junto com essa pequena epifania, ele se recordou de ter lido uma vez a frase: 'o amor é apenas uma invensão capitalista'. Não, o garoto definitivamente não concordava com isso. O que, na realidade, são invensões capitalistas são as denominações criadas e dadas afim de forçar a existência deste tão lindo sentimento. Casamento, namoro, noivado, 'ficada', isso sim são invensões e amarras. Parece que cada vez mais as pessoas tem a necessidade de expor, a qualquer custo e a todos, esse status de posse: 'Este é meu namorado'. 'Esta é minha noiva'. Um bom exemplo disso são sites de relacionamento e dia dos namorados. Se um dos dois esqueçe ou não compra um presente, pronto, o outro já briga e acha que não é mais amado. Agem como se neste único dia, e somente neste, o amor deva existir e os sentimentos devam ser demonstrados. Quer dizer, os casais podem brigar o resto dos dias, não se importar um como o outro, não trocar palavras carinhosoas nunca e tudo certo desde de que no dia dos namorados um dê um presentinho pro outro? 'O que você ganhou do seu/sua namorado(a)? Uma camista? Um chaveiro? Um canivete? Uma bolsa?' Qual o sentido disso? Falso, falso, falso. Um beijo demorado e/ou um fim de tarde abraçados ao ver o pôr-do-sol seria muito mais interessante. Essas coisas tem que ser sentidas e demosntradas todos os dias simplesmente porque é o que realmente se quer e se sente, e não porque você precisa dizer que namora ou precisa comprar um presente só porque é isso que os outros esperam. Parece que as pessoas precisam dizer e espalhar que não estão sozinhas para que, aos olhos da sociedade, elas não fiquem taxadas como solteronas encalhadas. As coisas não precisam e não devem ser assim. O amor é livre. Como já dizia Mário Quintana: "...para ser feliz com uma outra pessoa, você precisa, em primeiro lugar, não precisar dela." O amor é livre. Não que ele não gostasse ou não acreditasse em namoros, não era isso. A única coisa que realmente importa, pensava o garoto, é o que as duas pessoas sentem e a forma pela qual lidam com isso sozinhos, sem a necessidade de uma nomenclatura ou denominação para o sentimento/ relação que os dois sabem que existe.
E, então, os pensamento dele foram interrompindos quando ela lhe deu um beijo na bochecha seguido da frase: "Eu Te Amo Muito. Obrigada por fazer parte da minha vida." Sim, o amor é livre. Eles se amavam e era só isso que importava.

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