Iniciando


"A alma é literatura. Está cheia de estórias que nunca aconteceram".
(Rubem Alves)

domingo, 25 de julho de 2010

Entardecer

E então, de súbito, saiu de seu transe e olhou para o lado. Foi sem querer, ela não havia percebido aonde estava. Nem sequer via para onde suas pernas a levavam.
Foi quando viu. Estava passando pelo local. Mas não era apenas uma passada desapercebida pelas redondezas como sempre fazia; desta vez foi diferente. Desta vez ela reparou, lembrou, sorriu e quase se entristeceu.Talvez fosse por causa de tudo que vinha lhe acontecendo: toda raiva, dor, dúvida e desespero por respostas, ou talvez fosse o dia, o tempo. Era uma terça-feira fria, cinzenta e chuvosa. Estava quase escurecendo e ela já andava sozinha em meio ao crepúsculo há algum tempo. Estava frio, era tarde e ela tinha que partir, mas nada disso lhe importava. Sentiu uma energia ao passar pelo local. Foi tudo tão claro que nem parecia que pouco mais de um ano havia se passado. Foi estranho. Se fosse em outras épocas teria chorado mas, de alguma forma, as lágrimas não lhe surgiam por mais necessárias que fossem. Nada mais fazia sentido e ela sentia que estava à beira da loucura. Ficar sozinha não era tão ruim afinal, quando necessário. E sentia que era necessário.
Mais tarde, já no ônibus e longe do local, ela percebeu por onde estava passando.Além das gotas de chuva que observava escorrer pela janela, reparou no prédio.Esperou até que o ponto certo se aproximasse e então fixou mais sua atenção. Desejou ver as luzes da casa acessas para ter certeza de que a pessoa estava lá. Mas tudo era escuridão. Chorou por dentro.

(abril/2010)

Nenhum comentário:

Postar um comentário